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domingo, 6 de novembro de 2011

O primeiro atleta de Portugal a competir no Ultraman

Antônio Nascimento será o primeiro atleta de Portugal a competir no Ultraman, uma prova com 10km de natação, 420,6km de bicicleta e 84,3km de corrida.

O mundo da banda desenhada teve pelo menos duas personagens chamadas Ultraman. Mas o herói desta história chama-se Antônio Nascimento e é de carne e osso. No ano que vem, vai lidar com um desafio que não está longe de exigir superpoderes. Ele propõe-se cumprir dez quilómetros a nadar, 420,6km de bicicleta e 84,3km a correr em três dias. Será numa competição chamada Ultraman, que se realiza no País de Gales entre 1 e 3 de Setembro de 2012.

Coragem, em galês, até nem é uma palavra muito complicada: dewrder. E vai ser necessária toda a coragem para superar os mais de 500 quilómetros da prova. As inscrições no Ultraman são limitadas a 35 participantes e só se entra por convite. Antônio Nascimento foi um dos escolhidos. Tem experiência de triatlo (1,5km de natação, 40km de ciclismo e 10km de atletismo) e Ironman (3,86km de natação, 180km de ciclismo e 42km de corrida). Agora, quer tornar-se um Ultraman.

"Era um projecto guardado há muito tempo. Tenho 41 anos e estou superbem, tanto na parte mental como física. É a hora certa para fazer a prova", confessa, em conversa com o PÚBLICO. Nascido em Florianópolis, no Brasil, chegou a Portugal em 2008. Agora, prepara-se para ser o primeiro representante português (vai ter a nacionalidade a tempo da prova) num Ultraman.

Geralmente, o dia começa com uma corrida de 13 quilómetros entre Oeiras (onde mora) e Alcântara (onde trabalha). "Estou a trabalhar numa base de treinos bidiários. De manhã treino a parte muscular, numa modalidade específica: corrida, natação ou ciclismo. E à tarde faço um volume um pouco maior", descreve Antônio, que prevê fazer "um mínimo de quatro horas de treino diário" ao longo do ano que tem para se preparar para a prova. No final da semana em que falou com o PÚBLICO, por exemplo, tinha feito 80 quilómetros de corrida e quase dez quilómetros de natação, prevendo começar em breve os treinos de bicicleta.

"Era um miúdo fraquinho"

Antônio é apaixonado por desporto. "É a minha vida. Sinto falta se não fizer actividade física. Fico mais cansado ao estar na cama até às 9h ao domingo de manhã do que a acordar às 6h para dar uma corridinha. Fico irritado, frustrado, com dores no corpo inteiro", reconhece, explicando que vê a actividade física como "uma forma de relaxar".

"Sou atleta desde miúdo. Comecei a fazer judo aos sete anos, porque tinha um problema de saúde. Era um miúdo fraquinho. O médico aconselhou que eu fizesse um desporto. O meu pai conhecia um professor de judo e levou-me", recorda. E assim tudo começou. Mais tarde passou para o jiu-jitsu, tornou-se profissional e conquistou vários títulos de campeão. Como parte do trabalho físico, praticava corrida e triatlo. E quando deixou o profissionalismo, dedicou-se aos projectos que tinha guardados: primeiro o Ironman, agora o Ultraman.

A primeira participação num Ironman foi uma experiência muito emocional. Foi algum tempo após a morte do pai, em 2001. "Quebrei um pouco. Fiquei meio perdido, queria parar de fazer desporto", confessa, com a voz embargada. Mas um amigo inscreveu-o na prova, para homenagear o pai, e ajudou-o a preparar-se. "Completei bem a prova". E não parou mais.

Para além do trabalho físico, Antônio leva um estilo de vida regrado que ajuda a superar provas difíceis como um Ironman ou Ultraman. "Nunca bebi álcool na minha vida e procuro controlar bastante a alimentação. Sou muito determinado e cuido-me muito. Às vezes até me tento regular para não ser tão certinho. Sou um senhor de 41 anos com a cabeça de 60", sublinha com uma gargalhada.

Investimento de 15 mil euros

Mas por muito que cuide e trabalhe a parte física, Antônio reconhece que o aspecto mental é essencial para superar a dor e completar um teste da magnitude do Ultraman. "Procuro encontrar um equilíbrio e concentrar-me nas razões por que estou a fazer a prova. Vou estar muitas horas a fazer actividade física e é importante conseguir encontrar algo que te liberte durante a prova, para não estares sempre a pensar nos quilómetros que faltam", aponta.

Pensar na família, por exemplo, é uma das estratégias de Antônio. "A minha mãe está no Brasil e está empolgadíssima, liga-me para lhe contar como correm os treinos", conta. E a esposa vai estar bem perto dele durante a prova. Meire Cezário é fisioterapeuta e integra a equipa que vai acompanhar o atleta durante o Ultraman, que conta também com uma nutricionista, um director técnico e um director-geral.

Descontando as despesas com equipamento, que vai ser oferecido pelos patrocinadores, Antônio Nascimento reconhece que esta participação vai ser uma aventura cara: "Cerca de 15 mil euros", estima.

Um investimento que Antônio faz com o objectivo de "inspirar as pessoas em tempo de crise". "Quero passar o exemplo para as pessoas. Elas podem fazer tudo o que imaginarem, com preparação específica e determinação. O importante é as pessoas terem um objectivo, porque há gente que não sai do sofá para nada", acrescenta o atleta, dando como exemplo alguns dos seus alunos, que "passaram de sedentários a ultramaratonistas em muito pouco tempo".

Para os inspirar, Antônio quer ter um bom desempenho no País de Gales. Os melhores tempos dão o apuramento para o Ultraman Hawai, onde tudo começou, em 1983. E o atleta luso-brasileiro acredita que pode consegui-lo. Dewrder, dizem os galeses. Vai ser preciso coragem.

Regras: começar a nadar e acabar a correr duas maratonas

A prova vai decorrer entre 1 e 3 de Setembro de 2012, no Norte do País de Gales. "No primeiro dia faz-se dez quilómetros de natação e 144,8 de bicicleta. Há uns tempos limite para se passar para a fase seguinte. Tenho que nadar em menos de seis horas e tenho de pedalar em menos de 12 horas", explica Antônio Nascimento. Os atletas que ultrapassarem os tempos limite para a conclusão de cada segmento da prova serão eliminados. "No segundo dia, pedalar os 275,8 quilómetros em menos de 12 horas. Na última etapa são os 84,3 quilómetros, duas maratonas, igualmente com um limite de 12 horas", conclui o atleta luso-brasileiro.

Noticia retirada do jornal Publico

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